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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Entrevista


Ribeiro Cristóvão

Na história da rádio e do jornalismo desportivo está escrito o nome de Ribeiro Cristóvão. 45 anos a trabalhar em rádio, 35 dos quais na Renascença, e alguns programas de televisão. Um dos mais conhecidos homens da rádio conta, em entrevista, como entrou no meio, algumas das passagens mais marcantes da sua vida profissional e o que perspectiva para o futuro da rádio.


Porque é que decidiu fazer rádio?
Comecei muito miúdo a fazer rádio, em Angola, quando tinha 18 anos. Foi uma paixão que tive desde miúdo, sobretudo por causa do desporto. Entrei para a rádio através de um concurso. Fui fazendo entretenimento, fui fazendo informação, desporto... E depois fui seleccionando cada vez mais as minhas apetências até chegar mesmo ao núcleo do desporto onde desenvolvi mais a minha actividade. A rádio foi uma coisa de que gostei sempre e continuo a gostar muito. Hoje, continuo a ouvir rádio em onda curta, o que permite ouvir rádios da China e de todos os lados aqui. Sou um apaixonado e dedico-me à rádio todos os dias. Não há nenhum dia da minha vida que eu passe sem ouvir rádio.


É fã da expressão “a magia da rádio”...
A rádio é, de facto, um deslumbramento para todos porque, a partir do momento em que nós percebemos que dissemos alguma coisa e fomos ouvidos do outro lado, ficamos embebedados por essa ideia de que chegamos a outras pessoas. A rádio é uma magia que nos permite levar até junto dos outros aquilo que nós pensamos, com toda a fidelidade e honestidade, e, se possível, da forma mais sentida.


“Gostei sempre muito mais de rádio do que da televisão”


A televisão não tem esse poder?

A televisão é diferente. Gostei sempre muito mais de rádio do que da televisão. A televisão tem uma resposta mais imediata, ao falar ao microfone num estúdio de televisão temos as pessoas à nossa volta e num estúdio frio da rádio isso nem sempre acontece.


“Artur Agostinho para mim é a maior figura da rádio desde sempre”


Outra das suas paixões é o desporto...
Mas não trabalhei sempre no desporto. Também cheguei a exercer funções como chefe de redacção da Renascença, numa altura em que éramos menos e, portanto, tínhamos de recorrer às várias solicitações que a casa impunha, mas, de qualquer modo, estive mais ligado sempre ao desporto. Criámos uma secção desportiva já com alguma força em 1980, nessa altura, sob um plano do Artur Agostinho e meu. Os mais jovens conhecem-no, mas não têm, se calhar, uma ideia muito forte do gigante da rádio que esse homem foi. Para mim é a maior figura da rádio desde sempre. Eu tenho o prazer de ter tido com ele aqui o início da formação dessa equipa que depois foi ganhando o seu espaço aqui dentro da casa primeiro e depois lá fora. Passámos a liderar as audiências muito rapidamente, a concorrência também não nos oferecia grandes problemas.


Como vê o futuro da rádio?
Vejo com algum optimismo, apesar de tudo. Claro que, na altura em que apareceram as rádios piratas em Portugal, apareceram imensas rádios, centenas de rádios. E hoje o que está a verificar-se é que há um reposicionamento de rádios no espectro. O que significa que algumas tiveram dificuldades. Penso que, graças às novas tecnologias, a rádio vai continuar a ser um meio importante e vai certamente voltar a ter grandes audiências porque as pessoas começam a ficar um pouco cansadas da televisão. A televisão hoje já cansa, a rádio não, porque, para além do divertimento, tem música, e isso é um aspecto bastante importante.


As Rádios têm que potenciar mais as novas tecnologias?
Isso implica a redução de postos de trabalho porque hoje a rádio já está muito mecanizada e evita muitas vezes a intervenção humana, mas esse é um factor a que nós não podemos fugir de modo nenhum.


“Todos os dias é possível fazer coisas novas na rádio"



E o desporto na rádio? Ainda há caminhos para trilhar?
Nós dizemos todos os dias que está tudo inventado e todos os dias inventamos coisas novas. Se me perguntar o quê, não sei dizer. Depende do momento e do que é necessário fazer, das circunstâncias e das condições. Mas todos os dias é possível fazer coisas novas.


Uma notícia que tenha adorado dar aos portugueses...

Também porque estou numa emissora católica e porque o sinto, não estou aqui só por ser um profissional de rádio, também estou aqui porque estou numa emissora católica, há uma notícia que eu nunca mais vou esquecer, foi no dia em que foi anunciado que o papa João Paulo II era o novo chefe da Igreja, depois de terem sido feitos uns seis ou sete escrutínios para encontrar um novo Papa e de ter saído sempre fumo negro. Sexta-feira às três da tarde, que era exactamente a hora a que começava o noticiário da Renascença, que eu fazia, é que saiu o fumo branco e com grande surpresa para todos, foi anunciado "Habemos Papa polaco", fugia completamente às tradições da Igreja. Para mim foi um momento muito importante.


Consegue escolher o melhor jogador português de sempre?
O Eusébio.


E internacionalmente?
O Maradona. Vi-o ganhar o Campeonato do México em 86, era ele e mais dez da argentina, vi-o também vestindo a camisola do Nápoles e é para mim o jogador mais completo de sempre.


Um golo que o tenha deslumbrado...
Tenho que voltar ao Maradona porque eu fiz a final dos jogos do Campeonato de 86 no México e realmente houve um golo do Maradona que não posso esquecer que foi o golo que ele marcou contra a Inglaterra em que fintou sete adversários, incluindo o guarda-redes e fez golo.


Já ficou sem voz a gritar um golo?
Quando a emoção se apodera de nós, não conseguimos desligar-nos e houve alguns momentos em que fiquei com algumas dificuldades...


“Disse sempre, durante toda a minha vida, e não tenho motivos para esconder, que sou sócio do Sporting há 50 e tal anos, mas separei sempre as águas”



É difícil ser sempre imparcial?

Às vezes não é fácil, porque, enfim, nós também vestimos a camisola. Mas eu não concebo uma pessoa que está a ver um jogo de futebol e não se sinta lá dentro, fazendo parte de uma das equipas, acho que se deve viver um jogo com emoção, se não uma pessoa não a consegue transmitir para as pessoas que o escutam. Disse sempre, durante toda a minha vida, e não tenho motivos para esconder, que sou sócio do Sporting há 50 e tal anos, mas separei sempre as águas. Entrei sempre no estádio de Alvalade e deixei o meu cartão à porta, fui sempre capaz de ser profissional sem me lembrar que o Sporting é o meu clube. Agora, quando é com a Selecção é diferente, já várias vezes deixei confundir um pouco a minha profissão com a capacidade de ser isento em jogos da selecção portuguesa.

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